segunda-feira, 18 de maio de 2015

Garota Misteriosa 1

E era, um final de tarde daqueles bem melancólicos. Onde o cheiro do horizonte nos toma. E as borboletas voam mais distante. Onde nada parece fazer sentido. Ele sente-se perdido. Com as mãos no rosto, enquanto o resto de sol que ainda não se escondeu aquece sua alma. Ele pensa, reflete, concentra seus pensamentos todos para que possa refletir. Ele queria não permanecer parado com seus pensamentos de única companhia. Mas sabe, ele cansou de sair, de curtir a vida. De passar noites sem valor. E provar de beijos sem sabor. Ele cansou de ser errado, de acreditar que o errado é certo, e mais ainda, ele cansou de ficar com várias e voltar para casa no final de noite com um coração vazio. Com um nada dentro de si. Descobriu que sua solidão não se preenchia com noitadas. Com cinco, dez, vinte garotas, não importa. Porque a solidão maior acontecia lá dentro.




Enquanto ela estava do outro lado. Com seu snaker preto. Suas meias finas rasgadas. Seus cabelos molhados da chuva. E seu shorts personalizado. Com a maquiagem preta toda borrada marcando seus olhos. E o cigarro nas mãos. Com garrafas de Whisky e Vodka ao seu lado. Já não se importava com nada. Seu pulmão preto já não fazia mais diferença, ele era só um detalhe, para combinar com a cor de sua vida que há tempos era assim. Preta. Escura. Sem felicidade alguma. Mas ela até que gostava da solidão. Da sensação do vazio que corroía dentro dela. Ela carregava feridas nos bolsos. Feridas que já haviam cicatrizado. Ela não tinha amor algum, por nada, por ninguém. Já perdera as contas de quantos babacas ela amou em um passado, e acabou assim, sozinha. De tanto se machucar, ela tinha medo de amar. Já não amava mais ninguém. De tanto ser magoada, ela machucava sem dó. Ela era fria, sim. Poderia assistir a um acidente e ainda assim não se comoveria nem um pouco. Nem pena, nem lágrimas, nada. Indiferença. E toda essa marra, era apenas um escudo que a defendia de qualquer sentimento. Porque ela aprendeu que sentir, machuca. E que amor, vira dor. Ela aprendeu também que quando a dor não é na gente, não importa quem a sinta. E como a sinta.



E ele andava sem rumo, enquanto se deparou e olhou para aquela garota linda que estampava sua personalidade forte apenas no seu modo de se vestir. Nos cigarros que acendia, um atrás do outro. E nas bebidas que virava sem medo. Ela era toda perdida, toda errada, toda misteriosa. Ela era tão ela. Tão diferente de todas as outras. Ele se aproximou. Ela virou os olhos para cima. Irritada com o mundo, com a vida, com tudo. Ele encostou ao lado dela.

- Ei, isso faz mal, sabia?
- Isso é problema meu.
- Tudo bem. Só espero que saiba o mal que esses cigarros fazem para a saúde. Meu avô morreu de câncer de pulmão, sabia?
- Sorte a dele.
- Garota, você é louca?
- Talvez.
- Eu digo que meu avô morreu de câncer de pulmão e você diz “sorte a dele”?
- A morte é bela. A vida que é difícil.
- Por que uma garota tão linda e jovem fala assim da vida?
- Acha mesmo que alguém que bebe e fuma, tem amor a vida? Cigarros e bebidas antecipam a morte. Por isso eu bebo. E fumo.
- Não fala assim.. Tenho certeza que diz isso da boca para fora.
- Você não sabe de nada.
- Então me conta.
- Descubra.
E ela vira. Antipática, estressada, irritada. Soltando ar pela boca, e revirando os olhos para cima. Ele a segura pelos braços. Ela puxa. Ele segura ela firme.
-Ei, espera. Fica.
- Não.
-Eu gostei de você.
-Azar é o seu.
- Por que você é assim?
- Porque eu sou obrigada a existir.

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